Dentre os muitos eventos que em 2008 reverenciam os Duzentos Anos do Corpo de Fuzileiros Navais, a Marcha RIO-BRASÍLIA será aquele considerado mais desafiador e empolgante, pois envolverá uma expedição de cerca de duzentos Fuzileiros Navais que partirão do Rio de Janeiro, no dia 29 de março, à pé, dispondo de sua equipagem, de um forte aparato logístico e obviamente de muita aptidão física. A missão tem o propósito de comemorar o Bicentenário juntamente com o aniversário de fundação da capital do Brasil e, além disso, de se colocar em prática, no sentido real da palavra, a principal característica desta incomparável instituição, “O Espírito de Corpo”. Desta forma, a tropa deverá repetir este feito realizado na década de 60, também por Fuzileiros Navais, porém em tempo recorde de 23 dias, com maior número de militares, cumprindo uma rotina diária de 55 Km/dia, para efeito de planejamento, podendo ser aumentado ou diminuído, de acordo com o trecho a ser percorrido no dia.
Para o planejamento da Marcha, foi constituído um Grupo de Trabalho com Oficiais da Marinha do Brasil, Fuzileiros Navais e de outros quadros, com diversas especializações, como Educação Física, Medicina Esportiva, Nutrição, Fisioterapia, bem como com experiência em operações militares de grande vulto e que requeiram preparo físico e psicológico. O GT procurou colocar em prática todo conhecimento técnico de forma coordenada e, sem dúvida, a maior preocupação está em cumprir a missão com o mínimo de sacrifício possível. Para isto, o foco principal está na preparação física da tropa, cujo planejamento está descrito a seguir.
OBJETIVO DO TREINAMENTO
O planejamento do treinamento para Marcha RIO-BRASÍLIA foi elaborado com base nos princípios do treinamento desportivo em três fases ou macrociclos. Cada fase terá a duração de um mês e visa buscar dentre muitas qualidades físicas, aquela que será primordial aos militares, a resistência muscular localizada (RML).Desta forma exercícios de contra-resistência, vulgarmente conhecidos como “musculação” são os mais indicados para se obter a RML, porém com exercícios com muitas repetições. Exercícios que buscam o condicionamento aeróbico, como a corrida, a natação, característicos dos nossos TFM, não são o foco deste treinamento, porém não menos importantes, serão fundamentais para a recuperação metabólica, também conhecida como metabolismo, que permitirá à musculatura uma rápida recuperação com a ingestão de carboidratos e proteínas. Levando-se em conta que quanto mais bem preparado fisicamente o indivíduo melhor o seu metabolismo e considerando que a recuperação metabólica, em um período de nove horas de descanso, será o grande trunfo para o cumprimento dos 1.170Km, a tropa deverá estar preparada também para realizar exercícios de alongamento e relaxamento em todos os momentos de descanso, deverá ter disciplina de nutrição, ou seja, saber o que comer, em que quantidade e em que momento e por fim, saber o porquê do seu treinamento, saber o que está fazendo, acreditar e treinar, o que lhe dará todo o preparo psicológico.O Planejamento portanto, foi elaborado em três fases seqüenciais, de janeiro a março, visando aprimorar de forma segura o condicionamento físico da tropa, por meio de treinamentos de intensidade crescente de corrida contínua, corrida de calça e boot, natação, marchas propriamente ditas, e principalmente, do Treinamento de Resistência Muscular (TRM).
O TRM – TREINAMENTO DE RESISTÊNCIA MUSCULAR
O TRM é o grande diferencial deste treinamento. Implementado no CIASC desde o início de 2007 nos cursos de formação de sargentos e cabos, têm sido motivo de vibração e de renovação do TFM da tropa, que, além disso, têm alcançado melhores índices no TAF. Esta atividade física vem resgatar antigas atividades físicas características do CFN, como a ginástica com toros e a ginástica com armas, muito utilizada também no Exército Brasileiro, porém com técnica e metodologia aplicada, e que se utiliza exercícios modernos, sem prejuízos a estrutura física do militar, o que outrora não existia na execução de certos exercícios, como por exemplo, o conhecido “canguru”. Hoje se observa o grande número de militares antigos com problemas em joelhos e coluna vertebral frutos desta época em que se preparar fisicamente era chegar aos extremos sem controle. A diferença primordial é a metodologia com que o TRM é conduzido, o guia deve ser um militar preparado fisicamente para exigir da tropa a exaustão, porém tudo com muita técnica, de forma que quando alguém perde a postura na execução de um exercício, o guia determina que o militar pare ou continue de outra forma, menos prejudicial. Os exercícios requerem muitas repetições, porém com variações de velocidade na sua execução e trabalhos de isometria, o que quebra a monotonia, além de exigir mais da musculatura, provocando a moderna técnica da “confusão muscular” e explorando a coordenação motora e exigindo raciocínio do militar durante a execução. Os resultados são muito bons, além da hipertrofia, mesmo sendo um típico trabalho de resistência, há o aumento do limiar de resistência ao ácido lático que é notório em atividades de endurance. Além destes benefícios, funcionalmente, o Fuzileiro Naval adquire qualidades que lhe deixam preparado para atuar no combate moderno, é o caso da força e da resistência simultaneamente. Um militar em ação, progredindo num combate urbano por exemplo, se agacha unilateralmente pelo menos umas quinhentas vezes por hora para entrar em posição para um tiro rápido e preciso.
É certo que a marcha será um sucesso. Com todo este planejamento, todos chegarão a Brasília. A questão é que todos cheguem com o menor sacrifício possível, pois as variáveis atuantes em uma atividade física desafiadora deste nível são muitas, principalmente a individualidade biológica de cada militar, que poderá reagir diferentemente aos treinamentos. Contamos com a vibração e a dedicação de todos nos treinamentos.
Boa Sorte e ADSUMUS !!!!!!!!!!!!!!